O Crime do Padre Amaro - Eça de Queirós (1875)

O Crime do Padre Amaro foi publicado há mais de 100 anos e é uma deliciosa crítica à sociedade portuguesa do séc. XIX.
Apesar disto, são inúmeros os episódios que consigo enquadrar em Portugal dos dias de hoje. E, não o digo no bom sentido! Uma crítica que nos foi feita há mais de 100 anos continua atual e isso não é, definitivamente, um bom sinal...

Eça é um escritor fabuloso, pois tem a capacidade de nos transportar no espaço e no tempo com uma facilidade surpreendente e, como se não bastasse, ser um escritor incrível ainda consegue transmitir uma mensagem muito forte.

Uma passagem do maravilhoso Doutor Gouveia, um homem muito à frente do seu (e talvez até do nosso) tempo:

"Mas quando se manifestam no pequeno os primeiros sintomas de razão, continuava o doutor, quando se torna necessário que ele tenha, para o distinguir dos animais, uma noção de si mesmo e do Universo, então entra-lhe a Igreja em casa e explica-lhe tudo! Tudo! Tão completamente, que um gaiato de seis anos que não sabe ainda o bê-a-bá tem uma ciência mais vasta, mais certa, que as reais academias combinadas de Londres, Berlim e Paris! O velhaco não hesita um momento para dizer como se fez o Universo e os seus sistemas planetários; como apareceu na Terra a criação; como se sucederam as raças; como passaram as revoluções geológicas do globo; como se formaram as línguas; como se inventou a escrita... Sabe tudo: possui completa e imutável a regra para dirigir todas as ações e formar todos os juízos; tem mesmo a certeza de todos os mistérios; ainda que seja míope como uma toupeira vê o que se passa na profundidade dos céus e no interior do globo; conhece, como se não tivesse feito senão assistir a esse espetáculo, o que lhe há-de suceder depois de morrer...Não há problema que não decida... E quando a Igreja tem feito deste marmanjo uma tal maravilha de saber, manda-o então aprender a ler... O que eu pergunto é: para quê?"
C.
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